Apesar de conflitos com os pedreiros decorrentes de cálculos errados, riscos de roubo de material e o stress de lidar com o processo, a auto-construção acaba sendo a única alternativa.
Engana-se quem acredita ser este o começo.
As escavações para a fundação são o primeiro reflexo do projecto concebido na mente do dono da obra.
Se fosse uma obra entregue a um empreiteiro, talvez em menos de seis meses terminasse. Mas assim, o trabalho vai parar até ao nível permitido pelo material disponível. A auto-construção é o caminho seguido por muitos.
“Minha casa é tipo 3, mas para ter esse tipo 3 já tenho mais de vinte anos, comecei com dois quartos”
A casa tipo 3 referida por Arsénio Muaie é esta.
O homem do Bairro Memo, no Distrito de Marracuene, construiu também um pequeno estabelecimento comercial e um salão de cabeleireiro para conseguir mais renda, já que o salário que ganha como trabalhador das bombas de combustível nunca chega para nada.
Mesmo com um rendimento adicional, afasta a hipótese de contratar uma empresa de construção civil.
“Porque não tenho possibilidade mesmo de contratar empresa, não tenho nada mesmo para chegar a esse ponto, não me posso arriscar. As tantas, estou a receber uns cinco, seis. Como vou dividir? Nem para comer em casa chega” – lamenta Arsénio Muaie.
Marcolino Chilaúle, pedreiro há vinte anos, dedicou quinze à construção desta casa e a obra ainda não terminou.
A dona é uma enfermeira afecta ao Hospital Central de Maputo que muitas vezes recebeu telefonemas de Marcolino a informar que o material tinha acabado.
“Quando conversa com o dono da obra e diz, por exemplo, “eu vou construir até a viga geral, de repente ele não está e no meio da construção o material acaba, o que o senhor faz?”
“Fico um pouco indignado porque quando, não acontece o combinado, para mim é um atraso total naquilo que estabelecemos como orçamento, é um abate psicológico”
“Pode acusar-te de ter roubado o material?”
“Pode ter roubado como não, tudo é possível!”
O sorriso é a terapia usada por Marcolino para atenuar as frequentes discussões. Porque, às vezes, faz cálculos errados. Por isso, aceita que uma empresa faria melhor.
“Eu não fui à escola para aprender a construir, os engenheiros têm mais conhecimento técnico de orçamentação.”
“Bom tempo” é a resposta dada por Simião Sidumo, quando questionado sobre os anos de construção da sua obra.
Polícia de profissão, Sidumo veio pessoalmente ao estaleiro do Bairro Magoanine à procura de cinquenta peças destas para dar estética ao muro de vedação da casa.
Partilha estratégias para contornar o inevitável sufoco da auto-construção.
“Não tenho pressa! Tenho que comer, vestuário… essas coisinhas todas”…
“Já equacionou a possibilidade de contratar uma empresa de construção civil para lhe construir a casa?”
“Até gostaria, mas os custos são elevados. Faço consoante o meu salário, economizar dinheiro, fazer um xitique de família ou com amigos, é assim como eu faço.”
Para conseguir uma casa própria, via empreiteiro, seria necessário um acordo com a empresa para uma obra faseada, mas, às vezes, a capacidade de endividamento na banca é reduzida mesmo para essa modalidade, dizem os nossos entrevistados.