Só no mês de agosto deste ano, desapareceram 1.700,8 quilómetros quadrados, três vezes mais do que no mesmo mês do ano passado, quando se somaram 526,5 quilómetros quadrados, segundo o sistema DETER de alertas de satélite do Instituto Nacional para as Investigações Espaciais (INPE).
Nos meses anteriores, o panorama também foi bastante grave, com 738,2 quilómetros quadrados em maio, 936,3, em junho, e 2.255,4 em julho.
Os especialistas estimam que o número de 10.000 quilómetros quadrados poderá ser atingido este ano pela primeira vez, desde 2008.
Especialistas e defensores do ambiente explicam este aumento pela pressão dos madeireiros, encorajados pelo apoio do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que tem vindo a abrir as reservas indígenas e as zonas protegidas para desenvolver a recolha de madeira e a prospeção mineira.
De acordo com a diretora científica do Instituto para os Estudos Ambientais da Amazónia (IPAM), Ane Alencar, "o pico da desflorestação aconteceu em julho, e o dos incêndios deverá ser em setembro".
No sábado, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) brasileiro, Augusto Heleno, afirmou à Lusa que os incêndios na região tiveram um "alarmismo desnecessário", e que é uma "bobagem" (asneira) dizer que a Amazónia é património da Humanidade.
"Não tem o menor fundamento, [em dizer que a] Amazónia é património da humanidade, que a Amazónia é para ser aproveitada pela humanidade. Isso é uma barbaridade. Isso não será permitido, não só pelas Forças Armadas brasileiras, como pelo povo brasileiro", afirmou o general Heleno, em entrevista à agência Lusa, em Brasília.
"Isso é uma bobagem, sem fundamento, como seria uma bobagem acreditar que, por exemplo, a Sibéria [território russo] ou a Gronelândia [território dinamarquês] são património da humanidade. São bobagens que são ditas por alguns políticos que desconhecem totalmente não só a tradição da Amazónia do Brasil, como os direitos das nações independentes, e que a sua soberania deve ser preservada", acrescentou o ministro.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) reconheceu, em 2003, um conjunto de unidades de conservação, localizadas na região da Amazónia brasileira, como Património Natural da Humanidade. Contudo, o Governo do país sul-americano receia que tal designação ponha em causa a soberania do Brasil sobre a região.
O executivo brasileiro, liderado pelo Presidente Jair Bolsonaro, tem sido fortemente criticado, nacional e internacionalmente, pela forma como tem gerido os incêndios e a desflorestação na Amazónia, o que provocou uma crise ambiental e diplomática.
O Governo, porém, acredita que a comunidade internacional não tem legitimidade para tecer críticas ao Brasil, argumentando que o interesse estrangeiro pela Amazónia é apenas de caráter económico.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e tem a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).