Os centros infantis estão de rastos.
Dívidas acumuladas, redução de trabalhadores e de crianças são os sinais da crise agudizada pela pandemia da covid-19.
Apesar da retoma das aulas, algumas creches e escolinhas, em Maputo, continuam com as portas fechadas.
No centro infantil Balão Mágico, o mundo dos animais é o tema do mês.
É um mês atrás do outro com um futuro incerto para o centro infantil. A incerteza deve-se à ainda presente pandemia da covid-19.
Aquando do confinamento, as propinas reduziram 25%, as educadoras trabalhavam ao domicílio, mas nem isso evitou a crise, tal como o confirma a Directora do Centro Infantil Balão Mágico, Laila Mingana:
“Matola funcionava, mas o balão mágico de Maputo fechou. Alguma parte da nossa economia foi mesmo à falência, tivemos que usar custos que não existiam, então foi muito complexo ter que renovar e reajustar as contas”.
Contas são agora feitas para manter o negócio. Antes da pandemia, o número de crianças ultrapassava cinquenta, agora são apenas 16.
“Nós reabrimos em Março, então os papás estão ainda naquela fase ressentida: vamos ou não vamos? O facto de trabalhar de forma privada não significa que estamos num fórum isolado, nós estamos dentro das políticas e estratégias do governo de Moçambique. Então o governo pode sim ajudar os centros infantis a saírem desta crise” – propõe Laila Mingana
Antes da covid-19, quem passasse pela Avenida Olof Palme, na cidade de Maputo, concretamente defronte a esta vivenda, poderia ouvir vozes de crianças e, se espreitasse, via-as a brincar no pátio. Funcionava aqui o centro infantil Minion que fechou as portas por causa da crise.
“A maior parte dos centros infantis continuou a pagar as suas despesas por mais ou menos uns quatro a cinco meses, então de certa forma acho que isso é que afundou a maior parte dos centros infantis” – conta a Directora do Centro Infantil Minion, Ana Vieira.
Ana Vieira tem uma experiência de vinte anos como educadora de infância, cinco dos quais a liderar o negócio. A experiência de duas décadas foi rebatida pela situação económica e Ana teve de fechar dois centros infantis, um frente ao outro.
Agora vê este prédio a despontar num dos locais onde a creche Minion funcionava.
“Eu tinha mais de 300 crianças. Tive três encarregados de educação que pagaram o ano todo, foram os únicos a pagar.
As rendas estão um balúrdio, tanto é que me impossibilitam de reabrir, mas tenho essa vontade. Eu tinha no total 36 colaboradores nos dois centros” – lembra.
Trabalhar em infra-estruturas arrendadas apressa o colapso das escolinhas.
Com 33 anos e tutelada pelo Ministério da Saúde, o Centro Infantil Xiluva, na Avenida Eduardo Mondlane, tem uma infra-estrutura própria e isso salvou o negócio.
As receitas são também próprias, sem nenhum apoio do governo.
A capacidade para 160 crianças de antes da pandemia reduziu para 80 e em formação estão, actualmente, 45. É o que conta Rita Niquice, Assistente do Centro Infantil Xiluva:
“Numa mesa onde sentavam dez crianças agora temos que ter só duas crianças, isso são custos. Nem todos conseguiram trazer as crianças de volta porque o custo de vida subiu, isso significa que temos que subir as mensalidades para aguentar com os mantimentos”.
Quando os custos sobem, a preocupação dos pais em levar os filhos à escolinha reduz, o que as educadoras condenam:
“Quando vão à escola primária já sabem escrever os seus nomes, conhecem o alfabeto, as vogais, portanto penso ser importante que as crianças venham à escolinha nessa idade” – apela a educadora de infância, Júlia Nuvunga.
Há uma preocupação nos Centros Infantis. Os números da devastadora covid-19 estão novamente a subir.