Graça Tomás, 42 anos, sai de casa todos os dias para vender refeições num mercado da cidade de Maputo e assim sustentar os seus quatro filhos, apesar de os clientes serem cada vez menos nesta época atípica.
Viúva, insiste na busca: sai e procura o ganha-pão sabendo dos riscos acrescidos de contrair uma infeção pelo novo coronavírus.
Agradece, por isso, quando lhe estendem uma máscara de proteção fácil, entregue por um grupo de ativistas que está a percorrer mercados da capital.
“Sentimos a necessidade de ajudar as mulheres que têm de ir para rua para sobreviver. Pensámos numa campanha para angariação de máscaras para oferecer às mulheres dos mercados”, disse Énia Lipanga, uma das líderes da ação, sem título, mas que tem vindo a crescer, desde 07 de abril.
A iniciativa, criada por três mulheres ativistas, arrancou com a distribuição diária de apenas 80 máscaras de capulana (tecido estampado tradicional), resultado de pequenas doações de estilistas locais.
Com as semanas, o número de apoios aumentou, em número de máscaras e na adesão de voluntários.
No final da última semana, já eram 13 mulheres a distribuir mais de mil ‘kits’ por dia – um conjunto composto por duas máscaras, um sabão e um panfleto com instruções do Ministério da Saúde que ilustra a forma como devem ser usadas as máscaras.
As ativistas receberam um apoio de 10 mil máscaras de capulana oferecidas pela associação H2N, uma Organização Não Governamental (ONG) que trabalha na área da comunicação para a saúde nas comunidades moçambicanas.
“A iniciativa era destinada somente às mulheres, porque estão em maior número nos mercados, mas encontrando homens, também damos”, disse Mirna Chitsungo.
Além de dar a quem não tem, as ativistas distribuem às pessoas que usam máscaras descartáveis, substituindo as que não seguem as recomendações das autoridades de saúde.
Graça Tomás agradece. Confeciona e vende refeições há mais de 25 anos no chamado Mercado do Povo, no centro de Maputo, e hoje vive dias de ansiedade.
“Sendo mãe e pai ao mesmo tempo fica mais difícil custear as despesas. E agora que os miúdos estão sem escola, todos em casa, é só mãe aqui, mãe ali, e acaba não dando certo”, conta a vendedora.
Diz que recebia mais de 50 pessoas na sua banca, mas desde que foi decretado o estado de emergência em Moçambique e recomendado que as pessoas fiquem em casa (a não ser que trabalhem ou tenham algo para tratar), o número de clientes caiu para menos de dez e nalguns dias nem sequer um aparece.
Grande parte da sociedade moçambicana tem combatido a covid-19 através de máscaras produzidas com base na capulana, tecido tradicional, por estas serem de baixo custo.
Enquanto as máscaras cirúrgicas custam 100 meticais (1,4 euros) cada, as de capulana estão a metade do preço, mas mesmo assim são de difícil acesso para boa parte da população, que conta cada metical para poder suportar as despesas do agregado familiar.
A chegada do grupo de 13 mulheres ativistas ao Mercado do Povo parece atender a algumas das preces de Graça: aliviaram-lhe parte da ansiedade, tal como a outros 100 vendedores daquele espaço.
“É uma iniciativa louvável, muitas de nós não tínhamos máscaras, ficávamos a vender para comprar uma”, comenta, satisfeita, Graça Tomás.
Ester Chauque, secretária do bairro Central B, encara a iniciativa como um exemplo que “devia continuar e abranger todo os vendedores”.
“Muitos não têm como comprar uma máscara. É pouco dinheiro, mas quem não tem, não tem mesmo”, sobretudo quando a clientela é menor e isso está à vista: “o Mercado do Povo mudou muito”, conclui.
A campanha já abrangeu quatro grandes mercados da cidade de Maputo durante o mês de abril, tendo sido distribuídos mais de 3.000 ‘kits’.
“Não queremos ‘maputizar’ [centrar em Maputo] a campanha, por isso, estamos ainda a estudar formas de estendê-la para as outras províncias do país”, conclui Mirna Chitsungo.