Mundo ainda não está preparado para manipulação genética em bebés

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Um grupo de especialistas em manipulação de genes defendeu hoje que é demasiado cedo para se tentar fazer mudanças permanentes no ADN que possam ser herdadas pelas gerações futuras, algo que um cientista chinês alegou ter feito.

Os cientistas reuniram-se, esta semana em Hong Kong, para uma conferência internacional sobre manipulação de genes, a capacidade de reescrever o ‘mapa de vida’ para tentar combater ou prevenir doenças.

Embora a ciência dê indicações promissoras para ajudar pessoas que já nasceram, é irresponsável realizar experiências em óvulos, espermatoizoides ou embriões por ainda não se saber o suficiente sobre possíveis riscos, indicou, em comunicado, um grupo de 14 especialistas, ligados à conferência.

A conferência ficou marcada pela alegação de um cientista chinês de que ajudou a criar os primeiros bebés no mundo cujo ADN foi manipulado, gémeas que He Jiankui disse terem nascido no início deste mês.

O grupo de cientistas pediu uma investigação independente à alegação de He Jiankui, que falou com o grupo na quarta-feira, após reações negativas da comunidade científica internacional.

A conferência de três dias foi promovida pela Academia de Ciências de Hong Kong, pela Real Sociedade do Reino Unido e pela Academia Nacional de Ciências e Academia Nacional de Medicina, ambas dos Estados Unidos.

Entretanto, o cientista chinês, que alegou ter criado os primeiros bebés geneticamente manipulados no mundo, anunciou na quarta-feira que vai fazer “uma pausa” nas experiências, num momento de crescente crítica internacional.

“Vai realizar-se uma pausa nos ensaios clínicos, dada a situação atual”, disse He Jiankui, durante a conferência de especialistas em Hong Kong, na qual reiterou ser responsável pelo nascimento de gémeas cujo ADN foi manipulado para as tornar resistentes ao vírus da Sida.

Na mesma conferência internacional, um antigo prémio Nobel David Baltimore afirmou que o trabalho do cientista chinês mostrou uma falha de autorregulação entre os cientistas.

Baltimore sublinhou que o trabalho de He “seria considerado irresponsável” porque não atendia a critérios com os quais muitos cientistas concordaram há vários anos, antes de a manipulação genética sequer ser considerada.

He disse que as gémeas nasceram este mês e que foram concebidas para permitir resistir a possíveis futuras infecções pelo vírus da Sida.

Outro proeminente cientista norte-americano que discursou na conferência, o reitor da Escola de Medicina de Harvard, George Daley, alertou contra uma reação adversa à alegação de He.

Daley argumentou que seria lamentável se um passo em falso com um primeiro caso levasse cientistas e órgãos reguladores a rejeitar o bem que podia advir da alteração do ADN para tratar ou prevenir doenças.

Ainda não há confirmação independente da alegação do cientista chinês, mas cientistas e reguladores foram rápidos em condenar a experiência como antiética e não-científica.

A Comissão Nacional de Saúde chinesa ordenou que as autoridades locais na província chinesa de Guangdong investigassem as ações de He Jiankui, enquanto o seu empregador, a Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul, em Shenzhen, anunciou também ter aberto um inquérito.

He estudou nas universidades de Rice e Stanford nos Estados Unidos antes de regressar à terra de origem para abrir um laboratório na Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul da China, onde também tem duas empresas de genética.

Um cientista norte-americano garantiu ter trabalhado com He neste projeto. Trata-se do professor de física e bioengenharia Michael Deem, que foi conselheiro de He na Universidade de Rice, em Houston. Deem também detém “uma pequena participação” nas duas empresas de He Jiankui, disse.

Todos os homens do projeto tinham VIH, enquanto que todas as mulheres não, mas a manipulação genética não visava evitar o pequeno risco de transmissão, explicou.


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