O CHEIRO à borracha já denuncia que se está num posto de venda de pneus. São em segunda mão e muitas vezes as pessoas recorrem a eles convencidas de estarem a poupar dinheiro.
Este é um cenário que se repete em diversas artérias da cidade de Maputo. Em cada esquina, despontam autênticas estações de serviço em miniatura.
Lojas improvisadas em chapas de zinco, grades de ferros soldados, e, nalguns casos, construções em alvenaria fazem a paisagem deste negócio. Nestes estabelecimentos, pneus de várias dimensões e qualidades são amontoados, numa arrumação que atrai automobilistas, ávidos de trocar o “calçado” dos carros.
Maputo amanhecera debaixo de uma neblina espessa. A trajectória inicial da Reportagem do “Notícias” inicia na Av. Acordos de Lusaka, concretamente no bairro da Mafalala. Aqui, os armazéns e garagens se antecipam à azáfama matinal e, ainda cedo, os pneus são colocados nos passeios.
Mas não basta vender pneus, pois estes precisam de ser vulcanizados, recauchutados e/ou remendados, de acordo com o seu estado de conservação.
No entanto, quando o assunto é viajar com segurança, o uso de pneus em segunda mão divide opiniões. Se para uns é mais barato adquirí-los, para outros, é arriscado recorrer a eles.
“Meu patrão comprou os pneus na loja e já duram dois anos” disse Ananias Macuácua, transportador de semicolectivos na rota Praça dos Combatentes/Xinavane. Considera que usar pneus em segunda mão é arriscado. Quando um deles fica danificado, Macuácua prefere recorrer a empréstimo dos companheiros de estrada.
Por sua vez, Mário Magaia, operador na rota Praça dos Combatentes/ Costa do Sol, reconhece os perigos de circular com pneus usados, mas considera-os relativamente baratos. “Mas, por vezes, o barato sai caro porque na nossa actividade, quem recorre pneus usados deve se preparar para substituí-los várias vezes”.
Nos postos de venda de pneus, os preços variam consoante o seu estado de conservação. Alberto Muianga, mais conhecido por “Betinho” vende na Av. Acordos de Lusaka desde 1999 e considera que a má condução pode, em algum momento, consumir os pneumáticos em menos tempo.
No entanto, ele diz aceitar que os clientes troquem os pneus caso tenham problemas. “Pode acontecer que um cliente compre um pneu e o mesmo estoire antes de chegar ao destino. Nós damos uma garantia de duas semanas. Depois deste período recusamo-nos, porque o pneu pode ficar danificado em resultado de acidente”, explicou.
O preço dos pneus em segunda mão começa de 1000 ou 1500 meticais, conforme as dimensões e estado de conservação, podendo ser usados durante dois ou três meses. Os novos partem de 2000 e duram até dois anos.
Porém, reconhece que há gente que procura ludibriar os clientes vendendo-os produto muito degradado. Apontou que na África do Sul existem máquinas para reconstituir os trilhos em pneus desgastados.
A proliferação da venda de pneus usados acompanha o crescimento do parque automóvel. Todavia, o Inverno não satisfaz a Betinho que considera ser uma época de baixa venda.
A queda das vendas é o que mais preocupa a cidadã nigeriana, identificada apenas por Lordshare. Ela trabalha junto à Praça dos Heróis Moçambicanos.
Ela conta que nos seus 11 anos de actividade descobriu que a compra de pneus no estrangeiro (África do Sul, Japão e Alemanha) é cada vez mais onerosa, o que reduz as margens de lucro. “Há dias em que não vendemos nem um pneu”, lamenta e acrescenta que a crise económica veio complicar as contas.
INAE condicionada
VENDER pneus na via pública nem sempre foi tarefa facilitada. Num passado recente, a Polícia municipal desdobrou-se na recolha do produto, por acreditar que o seu uso estava na origem de muitos acidentes de viação.
Com o afrouxamento destas operações, as casas de pneus informais suspiraram e refloresceram.
A Inspecção Nacional das Actividades Económicas (INAE) ainda não inclui a fiscalização da venda de pneus usados. Virgínia Muianga, porta-voz da instituição, explicou que a inspecção dos pneumáticos está condicionada à actualização das especificações, instrumentos e normas que regulam a actividade.
PT fala de campanhas
De sensubilização
NO que diz respeito à segurança rodoviária, tem sido a Polícia de Transito (PT) que, em campanhas de fiscalização, interpela os automobilistas apelando-os a velar pelo estado dos pneus.
Paulo Langa, chefe do Departamento Central de Trânsito no Comando Geral da Polícia, recorda que o condutor é o primeiro agente fiscalizador, que deve verificar as condições mecânicas da sua viatura antes de se fazer à estrada.
Entre as causas de acidentes de viação, que só no ano passado provocaram 1379 mortos, pontificam o excesso de velocidade e estado mecânico dos veículos. As estatísticas da PT fazem pouca descrição dos sinistros originados pelo mau estado dos pneus.
Fonte: Jornal Noticias