O investimento directo estrangeiro, resultante de parcerias público-privadas, foi determinante para alavancar a economia moçambicana nos últimos cinco anos. O Presidente da República, Filipe Nyusi, mantém a aposta nesta estratégia no presente mandato de modo a viabilizar a capacidade produtiva existente em praticamente todas as áreas.
Intervindo ontem na Cimeira de Investimento Reino Unido-África, realizada na capital britânica, Londres, o Chefe do Estado explicou que Moçambique é um país com muita riqueza por explorar, desde a terra fértil para a agricultura, mar para a pesca e como rota de transporte, passando pelas diversificadas fontes de energia e importantes reservas eco-turísticas, até desaguar no capital humano,cuja qualidade garantiu que está a crescer.
“Como Governo, estamos a trabalhar para assegurar a estabilidade e segurança, mas também para melhorar o ambiente de negócios através da redução da burocracia e combate à corrupção a todos os níveis. A nossa visão é que as políticas macroeconómicas têm de ser prudentes de modo a evitarmos que os riscos financeiros incomodem a economia…”, explicou Filipe Nyusi, que integrou um painel sobre o tema “Oportunidades de desenvolvimento em África”, em que participou também o Presidente da Costa do Marfim, Alassane Ouatara, e o Primeiro-Ministro das Maurícias, Pravind Jugnauth.
Sobre a estratégia para assegurar que os investimentos captados nas diversas parcerias sejam orientados para beneficiar a agricultura, sector que o Chefe do Estado sublinhou como prioritáriopara o país, Nyusi explicou que uma das preocupações do seu Governo é promover a justiça social, razão porque todo o esforço que se faz é paragarantir que os moçambicanos sejam os primeiros beneficiários do desenvolvimento.
Na abertura do painel, o antigo Presidente do Grupo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Donald Keberuka, reconheceu aquilo a que chamou de “impressionante habilidade do continente africano de resistir” quando o mundo inteiro acreditava que a maior vítima da crise internacional seria África. Segundo ele, o desastre acabou por ser grave “apenas” pelo impacto negativo que teve a redução dos preços das matérias-primas.
Segundo Keberuka, “África não é mais um mercado exótico. É um mercado igual a muitos outros. África é África, mas são 54 países diferentes uns dos outros…”.
Como potencialidades do continente, o orador identificou as dinâmicas demográficas, nomeadamente o aumento da população que, segundo disse, é um activo de longo prazo; o aumento de jovens formados que entram para o mercado de trabalho; a digitalização e o uso das oportunidades que ela trouxe para fazer as coisas de maneira diferente.
Como grandes desafios, enumerou a necessidade de melhorar a logística, não apenas em termos de infra-estruturas e de expansão dos mercados.
“É preciso manter o ritmo de reformas no ambiente económico e adaptar melhor a nossa educação para aquilo que de facto são as necessidades do continente”, recomendou.
Nas várias intervenções que integraram o painel, foi vincada a importância de se melhorar a percepção que se tem em relação ao risco de investir em África, no pressuposto de que nem sempre ela corresponde àcaracterização que se faz.
Também se referiuàrelevância de os empresários africanos melhorarem a interacção entre si, de modo a fortalecer a sua capacidade de integrar cada vez maiores parcerias, assumindo que “ as soluções africanas não são só aplicáveis para África”.
A Cimeira de Investimento Reino Unido-África terminou ontem com o compromisso do Governo britânico de abraçar novas iniciativas de financiamento para reforçar as relações comerciais com África, apoiar os países na sua ambição de transformar as suas economias e ajudar o continente a desenvolver o seu potencial
Mais de 6.5 biliões de libras deverão ser aplicados em investimentos que vão beneficiar negócios em África e no Reino Unido e potenciar sectores como energia, infra-estruturas e tecnologia.
Ainda ontem, à margem da cimeira, o Presidente Filipe Nyusi manteveencontros bilaterais com diversas personalidades presentes em Londres, como o Príncipe Harry de Sussex;o Ministro britânico para o Investimento, Graham Stuart;e o Primeiro-ministro das Maurícias.
Hoje, o Chefe do Estado vai dirigir uma mesa-redonda sobre Moçambique, subordinada ao tema “Abrindo oportunidades no sector de agricultura e cadeia de valor resultantes dos desenvolvimentos nos projectos de gás liquefeito”. Oevento contará com a participação de representantes do Standard Bank, do Instituto Blair, da Exxon Mobil e da Plexus. No final está prevista a assinatura de um memorando de entendimento entre a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) e a Invest in Africa.