O Papa Francisco defende que a eficácia no combate à xenofobia pode se alcançar através de um maior investimento na educação das novas gerações, ensinando-as a assumir como sua, a missão de promover o respeito e solidariedade entre os Homens, e tornar o mundo num lugar melhor para viver.
Instado por jornalistas a reagir à eclosão de violência xenófoba nalguns países da África Austral, o Santo Padre chamou atenção para o facto de este fenómeno não ser apenas do continente africano, lembrando que já na era nazi, este comportamento era manifestado sob os mais diversos fundamentos.
“ Esta é uma ´doença` antiga. E temos vários tipos de xenofobia, aquela ligada ao preconceito da raça pura, e aquela que tem como base o tribalismo, como aconteceu no Ruanda, por exemplo, aquando do genocídio”, disse o Sumo Pontífice, que assume que a xenofobia é também um problema de educação.
Nos encontros que manteve com jovens, tanto no Pavilhão do Maxaquene, em Maputo, como no campo diocesano de Soamandrakizay, em Antananarivo, Madagáscar, no âmbito da sua peregrinação por alguns países da região, o Papa levou esta questão a debate, ao lembrar a sua audiência, que ninguém tem o direito de matar a alegria e o sonho de ninguém, em particular dos jovens, cada um dos quais “ é precioso aos olhos de Deus e tem uma missão a cumprir”.
Esta leitura do Santo Padre tem alguma relação com o que está a acontecer nos últimos dias na África do Sul, em particular, onde centenas de cidadãos estrangeiros estão a ser violentados, psicológica e fisicamente por grupos de indivíduos que se identificam como sul-africanos, que reclamam o espaço que alegadamente lhes está a ser retirado por cidadãos de outros países. Como consequência destes actos violentos, são aos milhares as famílias que ficaram dispersas e os sonhos de vida que acabaram interrompidos, nalguns casos com luto à mistura.
A esperança do Sumo Pontífice é que, sendo África um continente maioritariamente jovem, é possível investir-se agora para termos uma sociedade melhor no futuro, onde os valores da solidariedade humana estejam melhor enraizados nas pessoas.
“ É diferente da Europa que agora vive uma espécie de inverno demográfico. Em África ainda é prática, as famílias festejarem o nascimento de uma criança, o que mostra que esta tendência de rejuvenescimento vai se manter nos próximos tempos. Se investirmos cada vez mais na educação, assegurar que o sistema educativo é gratuito e cobre a maioria da população, estaremos a caminhar nesse sentido”, destacou o Santo Padre, para quem a xenofobia é também um problema de educação e de falta de referências.
O Papa Francisco, que falava a jornalistas esta terça-feira, a bordo do avião que o transportou de regresso a Roma no final da sua visita a Moçambique, Madagáscar e Maurícias, disse acreditar que, com uma sociedade educada será mais fácil lutar contra todos os tipos de xenofobia, desde aquela doméstica, em que as pessoas se repelem com o fundamento da tribo, como aconteceu no genocídio de Ruanda, até àquela que envolve a rejeição de pessoas provenientes de países que não os nossos, tal como está a acontecer na vizinha África do Sul.
“ A educação é uma prioridade neste contexto”, sublinhou o Papa, que defende que as pessoas não devem ser niveladas segundo rótulos ou referidas pelos seus erros ou falhas, pelas suas limitações ou por qualquer outro sinal que as faça pensar que nada do que possam fazer no futuro poderá mudar a sua vida ou a dos seus dependentes.
Júlio Manjate, em Roma