O Velho Continente foi às urnas e deu nova cara ao Parlamento Europeu

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Os partidos tradicionalmente mais representativos em Estrasburgo

perderam força. Em sentido contrário confirmam-se as chegadas de eurocéticos e populistas de extrema-direita, mas uma das grandes confirmações da noite é mesmo a subida dos ambientalistas.
A noite foi longa e cheia de novidades e dúvidas para o futuro de Estrasburgo.

 

O fim do domínio pelos dois principais grupos políticos europeus de centro-direita e centro-esquerda, com uma subida expressiva dos ambientalistas e ganhos, embora menores que o esperado, dos nacionalistas, marca as eleições europeias de 2019.

 

O fim do bipartidarismo

 

Numas eleições em que a participação eleitoral média na União Europeia (UE) foi a mais alta dos últimos 20 anos e oito pontos acima do anterior sufrágio, as duas grandes famílias políticas do Parlamento Europeu (PE), o Partido Popular Europeu (PPE) e os Socialistas & Democratas (S&D), perderam a maioria que detinham há décadas na assembleia europeia, o que aliás já era previsto na generalidade das sondagens.

 

O PPE viveu uma noite agridoce. Mantém-se como a principal força política europeia, com 178 eurodeputados, mas perde 39 lugares no hemiciclo, e o S&D continua a ser a segunda força política, com 152 deputados, menos 35 que na atual legislatura, segundo uma projeção do PE baseada em resultados oficiais e provisórios em 22 países e em estimativas nos restantes seis.

 

Um novo ‘xadrez’ político

 

A Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa (ALDE) torna-se, de forma destacada, a terceira força política no PE, com 108 eurodeputados, um crescimento de 40 eurodeputados que passa pela integração do francês En Marche, enquanto os Verdes europeus ganham 15 assentos, para ser o quarto grupo político, com um total de 67 representantes.

 

A ‘onda verde’, como foi designada por vários dirigentes de partidos ambientalistas, foi especialmente proporcionada pelos Verdes alemães, que passaram a segunda força mais votada na Alemanha, e pela crescente importância atribuída pelas populações às questões ambientais.

 

As forças nacionalistas eurocéticas, na agenda destas eleições sobretudo em face da proposta aliança nacionalista que o líder da extrema-direita italiana, Matteo Salvini, se propõe formar, também registou ganhos, mas não deverá dispor do número de eurodeputados suficiente para bloquear sozinha votações decisivas.

 

Segundo dados ainda provisórios, os eurocéticos deverão somar 172 eurodeputados, mais 17 que na atual assembleia, mas distribuídos por três grupos políticos diferentes – Conservadores e Reformistas (ERC), Europa das Nações e das Liberdades (ENF) e Europa da Liberdade e da Democracia Direita (EFDD) -, com diferentes agendas políticas.

 

A União Nacional (ex-Frente Nacional), de Marine Le Pen, voltou a vencer as europeias em França, embora segundo resultados provisórios com algumas décimas menos que em 2014, derrotando a estratégia de Emmanuel Macron de impôr a sua agenda progressista.

 

Já Matteo Salvini, segundo as sondagens à boca das urnas, ficou aquém do esperado, embora se afirme claramente como principal partido de Itália.

 

Ao nível nacional, destaca-se desde logo nestas eleições o Reino Unido, onde uma eleição realizada ‘a contra-gosto’ por incapacidade para concluir o processo do Brexit terminou, segundo resultados provisórios, com uma vitória expressiva do Partido Brexit, de Nigel Farage, o enfraquecimento dos Trabalhistas e o quase desaparecimento dos Conservadores, relegados para quinto lugar.

 

Também a Alemanha, onde os eleitores castigaram os partidos da grande coligação — a União Democrata-Cristã (CDU) de Angela Merkel e o Partido Social-Democrata (SPD) -, fazendo os Verdes duplicar a sua votação, para 20%, e subir a segundo partido mais votado e mantendo a extrema-direita eurocética da Alternativa para a Alemanha (AfD) com uma votação de cerca de 10%.

 

Os 28% obtidos pela CDU mantêm-na como o partido mais votado, mas são o pior resultado da história da formação, e os 15% pelo SPD deixam muito fragilizada a coligação governamental alemã.

 

Estas eleições Europeias – as mais concorridas dos últimos 20 anos, numa tendência inversa ao que se registou em Portugal – abrem caminho a potenciais novas dinâmicas na Europa. Cinco anos depois, há velhas e novas caras a preencher Estrasburgo.


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