O especialista em incêndios florestais Xavier Viegas revelou hoje que terá sido a “rápida propagação” do incêndio que deflagrou em Pedrógão Grande que conduziu às várias mortes, fazendo deste um dos mais graves incêndios do mundo dos últimos anos.
O professor universitário acrescentou, ainda, que a falta de limpeza das florestas e da envolvente das casas, bem como as características do terreno, terão contribuído para a extensão deste incêndio com vários focos, apesar de se suspeitar que a causa foi uma trovoada seca.
“Tudo leva a crer que a propagação do fogo foi muito rápida, não tenho a certeza, mas a indicação que tenho é que terá havido vários focos de incêndio, não necessariamente por causa humana, há possibilidade de ter sido causado por uma trovoada seca e, quando isso acontece, pode haver vários focos ao mesmo tempo em diferentes lugares e aí torna-se extremamente difícil controlar todas as situações”, explicou à Lusa.
Esta situação aliada à vegetação e ao “estado de secura muto grande” em que se encontra, e a um terreno “muito complicado”, como é o circundante do IC8, com ravinas e desfiladeiros muito acentuados, “dá origem a comportamentos do fogo que facilmente surpreendem as pessoas”.
Ainda a avaliar a dimensão da tragédia humana, Xavier Viegas adianta já que este é o incêndio “mais importante de que tem conhecimento”.
“E, claramente, pela repercussão que está a ter, mesmo a nível internacional, penso que é um dos maiores incêndios, dos mais graves, dos últimos anos na Europa, se não no mundo”, até mesmo pelo “número de vítimas, pela rapidez com que se desenvolveu e como estas vítimas foram causadas”.
Para o especialista, este acontecimento deveria chamar a atenção para “muita coisa que é preciso fazer no nosso país para melhorar a segurança das pessoas e evitar que este tipo de acidentes ocorra”.
Nesse sentido, Xavier Viegas e a sua equipa de investigação que trabalha no problema da segurança das pessoas vão “procurar estudar o mais possível aquilo que aconteceu para retirar destas circunstâncias todas as lições que for possível retirar”, procurar “aprender com elas e, se possível, no futuro evitar que este tipo de acidentes ocorram”.
Quanto às razões que justifiquem que tantas pessoas tenham sido apanhadas pelo incêndio dentro dos carros no IC8, o investigador reconheceu não saber explicar, até porque ainda não tem os dados todos, mas sublinha que, daquilo que se apercebe, a principal razão é que “tudo se passou muito depressa”.
“A experiência que tenho destes terrenos é que o fogo se propaga com muita rapidez: de um momento para o outro. As pessoas podem pensar que estão em segurança, que há condições para passar e podem ser surpreendidas na curva”.
Outro aspeto importante é que nem sempre é fácil estar a cortar o acesso (nas estradas) a toda a gente, porque “há pessoas que residem por aqui, há casas por todo o lado e, infelizmente, pode sempre haver gente que de um momento para o outro pega no seu carro e se faz a estrada”.
“Como digo, não sei quais as circunstancias aqui, mas ao que julgo saber houve várias outras vítimas para além deste aglomerado que houve aqui num dado ponto da estrada próximo de Castanheira de Pera, mas pode haver pessoas que se metem nos carros e sem as autoridades terem conhecimento”, afirmou.
Independentemente da imprevisibilidade que este tipo de incêndios sempre acarreta, há uma série de fatores previsíveis e preveníveis, que passam por limpar as florestas, dar mais condições de proteção às casas, que as pessoas tenham mais cuidado na limpeza da envolvente das casas, para que possam estar seguras, ter indicações de quando podem e não podem, ou não devem, fazer-se à estrada, “porque há circunstancias em que, de facto, não é um meio seguro, quer para bombeiros quer para civis”, considerou.
Partindo deste episódio, Xavier Viegas antevê um ano complicado, sobretudo se as condições meteorológicas persistirem, mas sublinhou que as pessoas podem fazer alguma diferença.
“Diria que, infelizmente, estamos no começo do período dos incêndios e não estamos a começar nada bem. Se as condições meteorológicas não mudarem é de esperar que tenhamos este tipo de situações. Agora o que pode e deve mudar é o comportamento das pessoas”.