"Como a Covid-19 restringe as deslocações, absorve recursos para fazer cumprir a lei e reduz os serviços públicos e sociais, as vítimas de tráfico de seres humanos têm ainda menos hipóteses de fugir e de encontrar ajuda", afirmou a diretora-executiva do Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime (UNODC, na sigla em inglês), Ghada Wali, num comunicado.
A representante defendeu ser essencial que os países continuem a assegurar locais de acolhimento e linhas telefónicas de apoio de emergência para as vítimas.
Manter o acesso aos tribunais e a capacidade de ação de unidades de combate ao tráfico de seres humanos são outras medidas que devem ser igualmente asseguradas, segundo salientou a diretora-executiva do UNODC.
A par do risco de infeção pelo novo coronavírus, um estudo recente do UNODC indicou que o encerramento das fronteiras -- medida excecional decretada por vários países para tentar conter a propagação do vírus -- está a impedir que algumas vítimas de tráfico de seres humanos regressem às respetivas casas.
Segundo a agência da ONU, as vítimas também são atualmente confrontadas com atrasos nos processos legais, bem como estão expostas a um aumento de maus-tratos ou mesmo deixadas ao abandono pelos traficantes.
No mesmo comunicado, o UNODC alertou igualmente que o número de crianças forçadas a pedir ou a procurar comida nas ruas tem vindo a aumentar, uma vez que muitas escolas permanecem encerradas por causa da pandemia e deixam de ser uma hipótese de abrigo e de fonte de alimentação.
A agência advertiu ainda que as redes de tráfico podem tornar-se "ainda mais ativas" e atacar pessoas que "estão ainda mais vulneráveis", uma vez que muitas delas perderam as respetivas fontes de rendimento por causa das medidas para travar a propagação do novo coronavírus.
Segundo o relatório de 2018 do UNODC sobre o tráfico de seres humanos, a exploração sexual e o trabalho forçado constituem as principais formas de tráfico, afetando principalmente mulheres e crianças do sexo feminino.
Uma em cada três vítimas de tráfico é menor, de acordo com o mesmo relatório.
Dados relativos a 2016 indicavam que o número total de vítimas de tráfico de seres humanos no mundo rondava as 25 mil.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias France-Presse (AFP), a pandemia de covid-19 já provocou mais de 257 mil mortos e infetou quase 3,7 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Mais de um 1,1 milhões de doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.